Rotas de cicloturismo no Brasil (Sudeste e Sul)

Rotas de cicloturismo no Brasil (Sudeste e Sul)

Acesso rápido:

Sempre quis organizar as opções que temos de rotas de cicloviagem. Escolher uma rota pré-definida poupa tempo e, supostamente, passa por lugares preparados para receber o viajante.

Escolhi circuitos (mais ou menos) organizados, que tenham sinalização, site informativo, etc. Escolhi também roteiros de múltiplos dias. Existem vários roteiros de um único dia que são muito bacanas, mas não era o propósito aqui.

Também existem várias rotas de múltiplos dias (Serra da Canastra, Jalapão, Chapadas Diamantina e dos Veadeiros, etc) que são superinteressantes mas que não possuem uma rota pré-definida ou têm raras informações. Outros dependem de agências, que devem ser obrigatoriamente contratadas para guiar o cicoloviajante. Também ficaram fora.

Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina concentram quase todas as opções que estejam nessas categorias. Isso não quer dizer não existam outras rotas, ou possibilidades pouco exploradas, em outros lugares.

Caminho da Fé (SP/MG)

Mapa do Caminho da Fé

Mapa do Caminho da Fé

Na minha opinião o Caminho da Fé é o mais difícil e o mais clássico roteiro de cicloturismo do Brasil. Por cruzar um longo trecho de Serra da Mantiqueira, as subidas são muitas e loooongas, com nomes que ficarão gravados na memória de quem passou (empurrou a bike) por elas. O trecho mais tradicional do Caminho da Fé começa na cidade de Águas da Prata (SP), entra em Minas Gerais e volta ao território paulista em Campos de Jordão, para de lá seguir para Aparecida.

Existem também vários outros ramais, que se juntam próximo a Águas da Prata. Os mais longos são os ramais de São Carlos e Sertãozinho, que tem, respectivamente, 536 km e 571 km, no total.

Eu pedalei um trecho do Caminho da Fé (entre Águas da Prata e Campos de Jordão), que conto aqui nesse post do blog. Talvez seja o pedaço mais bonito e difícil, mas é possível faze-lo em 4 dias. Daria até para chegar em Aparecida nos mesmos 4 dias, mas é preciso estar em boa forma.

O site do Caminho da Fé é bastante completo, tem dezenas de relatos na internet e existe também um guia de cicloturismo do Antonio Olinto (link aqui).

 

Estrada Real (MG/SP/RJ)

Do site do Instituto Estrada Real

Fonte: Instituto Estrada Real

A Estrada Real é a maior rota turística do país. São mais de 1.630 quilômetros de extensão, passando por Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.  A sua história surge em meados do século 17, quando a Coroa Portuguesa decidiu oficializar os caminhos para o trânsito de ouro e diamantes de Minas Gerais até os portos do Rio de Janeiro. As trilhas que foram delegadas pela realeza ganharam o nome de Estrada Real. — tirado do site do Instituto Estrada Real

A ER conjuga muitas coisas que todo cicloviajante busca: boa sinalização do percurso (os famosos totens), paisagens naturais belíssimas, cidades históricas, povo acolhedor e muitos quilômetros para se pedalar. Esses caminhos cruzam os mares de morros de Minas Gerais (que deve conter uns 80% da ER).

O site da ER, mantido pelo Instituto Estrada Real, é bem completo e fácil de navegar. A ER pode ser percorrida em qualquer sentido, mas normalmente as pessoas fazem no sentido Norte-Sul (ou Oeste-Leste, para o Caminho Novo).

O que as pessoas chamam de Estrada Real na realidade são 4 caminhos diferentes:

Caminhos dos Diamantes

O caminho tinha a intenção de conectar  Ouro Preto à principal cidade de exploração de diamantes, Diamantina. Fiz esse caminho de bike em 2013, tendo o relato detalhado aqui nesse post.

Saindo da bonita Diamantina, a ER vai por regiões de campos rupestres de altitude com bastante subidas, muitas vezes passando muitos quilômetros por regiões isoladas. Uma coisa preocupante é que vários trechos estão sendo asfaltados, tirando muito da beleza da ER.

O Caminho dos Diamantes tem um guia de cicloturismo muito bem elaborado e útil, escrito pelo Antonio Olinto.

Existem algumas opções de caminho diferentes, principalmente entre Serro e Conceição do Mato Dentro, onde o caminho oficial não é a Estrada Real histórica. No meu post e no guia do Antonio Olinto tem mais detalhes sobre isso.

Com o acidente e destruição do vilarejo de Bento Rodrigues, é necessário tomar uma rota alternativa para ciclistas, caminhantes e cavaleiros de Santa Rita Durão até Camargos.

 

Caminho do Ouro (ou Velho)

Também chamado de Caminho do Ouro, foi o primeiro trajeto determinado pela Coroa Portuguesa e liga Ouro Preto a Paraty. Junto com o Caminho dos Diamantes, é o trecho mais popular e percorrido por cicloturistas na ER, com muitos relatos na internet.

Diferentemente do Caminho dos Diamantes, esse caminho passa por trechos com mais verde, já na parte da Serra da Mantiqueira, cruzando regiões mais povoadas de Minas, SP e RJ.

Um cuidado importante a ser tomado no Caminho do Ouro são os “mata-ciclistas”, versões dos mata-burros em que as barras são colocadas no sentido da estrada e que podem causar acidentes feios.

Também tem um guia de  cicloturismo do Antonio Olinto, com o link aqui.

 

Caminho Novo

Criado para servir como um caminho mais seguro ao porto do Rio de Janeiro, principalmente porque as cargas estavam sujeitas a ataques piratas na rota marítima entre Paraty e Rio.

Não é tão famoso e percorrido como o Caminho do Ouro e mas dá para encontrar relatos na internet de quem já o fez.

 

Caminho do Sabarabuçu

O mais curto e menos conhecido dos caminhos da ER. Liga Cocais a Glaura, distrito de Ouro Preto. Com é em Minas, não faltam subidas para os 160 km.

Aqui tem um excelente relato de 2018 do Miura: zaponeis.wordpress.com/2018/05/06/sabarabucu-2018/

Vale Europeu (SC)

Circuito Vale Europeu

Este circuito foi um projeto das prefeituras com o Clube de Cicloturismo do Brasil, com o objetivo de criar um roteiro de cicloturismo nos municípios de Timbó, Pomerode, Indaial, Ascurra, Rodeio, Dr. Pedrino, Rio dos Cedros, Benedito Novo e Apiúna. É um roteiro circular e, normalmente, a cidade de Timbó é escolhida para ser a base.

O Vale Europeu talvez seja hoje a rota de cicloturismo mais popular e também a mais oferecida por agências no Brasil, ou seja, o mais comercial deles. O outro lado da moeda é que ouve-se muitas reclamações sobre o alto preço das acomodações no roteiro. O Circuito Vale Europeu corre o risco de levar o “Troféu Nutela” da categoria. 😉

 

Circuito Costa Verde e Mar (SC)

Circuito Costa Verde e Mar

Circuito Costa Verde e Mar

O Circuito Costa Verde e Mar junta trechos de praia com serras com mata atlântica. O site é bem organizado também.

Texto de divulgação do site:

O Circuito Costa Verde & Mar traz a possibilidade de conhecer de bicicleta um dos mais recortados e belos litorais do país. Passa ainda por tranquilas cidades do interior, com matas preservadas e rios com belas cachoeiras.

Este roteiro é repleto de atrativos naturais, históricos e também gastronômicos e culturais. A paisagem é bem variada, alternando entre altos de serras a planaltos ou vales de rios. A Mata Atlântica é bem preservada, mesclada com florestas de imponentes e belas araucárias.

 

 Circuito das Araucárias (SC)

Rota das Araucárias

Os catarinenses pegaram gosto por organizar circuitos de cicloturismo, o que é ótimo.

O Circuito das Araucárias fica numa região vizinha ao Circuito Vale Europeu, com características semelhantes, sendo 10 Continuar lendo

Dia 1, Diamantina a Serro: Caminho dos Diamantes

Domingo, 30/06/2013

Como era previsto, acordamos ressacados pelas várias cervejas tomadas na noite de sábado assistindo a vesperata. Mesmo assim estávamos animados para cair na estrada. Arrumamos as coisas e fomos tomar o café da manhã. O café do Diamantina Hostel é bom, com variedade e qualidade (para um albergue, claro).

Hora da partida, tiramos a tradicional foto, com as caras meio inchadas e pé na estrada, ou melhor, rodas na Estrada Real. O objetivo do dia era pedalar quase 64 km até Serro, com 1.400 m de ascensão acumulada.

Saída do Diamantina Hostel

Saída do Diamantina Hostel

Enquanto passávamos perto da rodoviária para achar o início da ER, paramos na feira livre para comprar doces caseiros, queijo e outros alimentos para o dia. Apesar de pequena, a feira tinha alguns produtos que não conhecemos aqui em São Paulo, como broto de samambaia e outras coisas que nem deu para reconhecer. Pena que não deu para investigar e provar mais. Uma das coisas bacanas de viajar por estes lugares é experimentar coisas que só tem por lá, não necessariamente o “típico” para pegar turista, mas o autêntico que os moradores consomem.

Parada na feira livre de Diamantina para comprar comida.

Parada na feira livre de Diamantina para comprar comida.

Tem que pedalar uns dois quilômetros para sair da cidade e cair na terra. Saindo do centro histórico passamos pela cidade real, com suas casas simples, beirando a pobreza.

Corrente quebrada com 25 km.

Corrente quebrada com apenas 25 km. Shit happens!

Depois de 25 km de pedal a minha corrente estourou. Tentei consertar com a chave de corrente mas ela continuou escapando. O jeito foi retirar dois elos e encurtar a corrente. É bem ruim um problema destes acontecer tão cedo na viagem. Após isto fiquei apreensivo com uma possível nova quebra, segurando mais a pedalada.

Descendo para o Ribeirão do Inferno.

Descendo para o Ribeirão do Inferno.

O Caminho dos Diamantes é muito bonito neste trecho, a altitude é elevada, acima de 1.000 m, com grandes vales nos rios, como o Ribeirão do Inferno e o famoso Rio Jequitinhonha. Parece que vamos encontrar os personagens do Guimarães Rosa nos campos de pedra praticamente desertos, com o Riobaldo e Diadorim morando em lugares afastados, perdidos no tempo.

Casarão abandonado.

Casarão abandonado.

Perto de Vau encontramos o Marconi Leão, autor de um guia simples sobre a ER. Ele e alguns amigos estavam voltando de Ouro Preto, com as bikes na carroceria da caminhonete. Ele deu a dica de pegar a segunda saída de Alvorada de Minas. Agora tínhamos 3 opções de caminhos entre Serro e Conceição do Mato Dentro.

Depois de passar a calha do Rio Jequitinhonha tem uma boa subida até São Gonçalo do Rio das Pedras, onde comemos um lanche na padaria do vilarejo. O lugar é bem bem bacana, meio isolado e com um clima bicho-grilo, com muitas cachoeiras e trilhas. Deu vontade de voltar lá com mais tempo.

Ricardo comemorando a subida do Rio Jequitinhonha.

Ricardo comemorando a subida do Rio Jequitinhonha.

Pegamos a estrada depois do lanche e já meio tarde, estávamos com pressa, pois achávamos que a final da Copa das Confederações fosse começar as 17h, e apertamos o passo.

A estrada entre São Gonçalo e Milho Verde está sendo preparada para o asfaltamento. Entendo as facilidades para quem mora por lá, mas em termos de viagem tira muito do clima. De Milho Verde até Serro é tudo recém asfaltado. A paisagem é bonita, mas o asfalto tira 80% do encanto. É uma pena.

Trecho recém asfaltado entre Milho Verde e Serro.

Trecho recém asfaltado entre Milho Verde e Serro.

Chegando em Serro tem uma descida absurda, onde passamos de 70 km/h. Em compensação, para chegar em Serro tem uma subida que custou para nós, já cansados e ainda não totalmente recuperados da ressaca. A paisagem chegando em Serro já começa a mudar, deixando de ser campos rupestres e passando a ser uma floresta mais fechada e exuberante.

Em Serro ficamos na Pousada Mariana (R$ 50 por pessoa, boa opção), no centro. Descobrimos que o jogo Brasil x Espanha só começaria às 19h. Deu tempo para tomar um banho e lavar as roupas do dia, além de tomar uma bela dose de BCAA e proteína whey para recuperar a musculatura.

Devoramos uma pizza na Pizzaria Veneza assistindo a vitória do Brasil e vendo a rivalidade entre os mineiros do Atlético-MG e Cruzeiro (que comemoraram o gol do Fred, enquanto os atleticanos ficaram calados).

Dica de hospedagem:

Resumo do dia:

  • Distância: 67.1 km
  • Média de 12 km/h
  • Tempo pedalado: 5 h e 33 min

Dia 0, Diamantina: Caminho dos Diamantes

Sábado, 29/06/2013

Chegamos em Diamantina as 13:30, quando pelo horário da Gontijo seria para chegar as 10:00. Com isto tivemos que mudar os planos originais. O Ricardo, que vinha de Ribeirão Preto e chegaria bem depois de nós, com o atraso, chegou enquanto eu montava a bike na rodoviária.

Queríamos aproveitar que chegaríamos cedo para ir até o Parque Estadual de Biribiri, passando pelas cachoeiras dos Cristais e Sentinela. Com o atraso na chegada, resolvemos cancelar a ida a Biribiri e aproveitar a bela tarde de céu azul para conhecer Diamantina.

Rumamos para o Diamantina Hostel, onde havíamos reservado um quarto para nós. Banho tomado, fomos bater perna pela cidade.

A cidade é muito bonita, nos surpreendemos com a quantidade de construções coloniais que ainda existem e estão bem conservadas. A cidade valeria mais dias de estadia, pois tem muita coisa bacana nos arredores. Mas nosso objetivo era o Caminho dos Diamantes. Ainda voltarei lá para conhecer este e outros lugares que passamos batidos pela Estrada Real.

Centro histórico de Diamantina

Centro histórico de Diamantina

Descobrimos que naquele sábado teria uma vesperata. A vesperata é um evento musical que os músicos tocam das sacadas dos casarões em torno do largo da Rua da Quitanda, com o maestro regendo do centro do largo. São serestas e músicas tradicionais, dando uma sensação de você ter voltado no tempo, com o casario colonial e a música. Foi muita sorte estar por lá num sábado de vesperata.

Vesperata em Diamantina

Vesperata em Diamantina

Acabamos nos animando e tomamos muitas Heinekens. Fomos dormir as 1h da madruga, já bem prá-lá-de-Bagdá. O plano era acordar as 7:00 do domingo, tomar um café da manhã reforçado e cair na Estrada Real. Mas teríamos uma companheira de viagem: a ressaca.

Não conseguimos ir até Biribiri, mas parece ser um bom passeio. Se interessar, aí está uma página com mais detalhes.

http://trilhasmg.blogspot.com.br/2008/10/mtb-cachoeira-dos-cristais-sentinela-e.html

Dica de Estadia:

Diamantina Hostel: é um albergue com quartos coletivos. Nós reservamos um quarto só para nós três, com banheiro. O local é bom, limpo, perto do centro, a proprietária (Rita) é atenciosa e o café da manhã é variado. Custou R$ 50 a diária. Email de contato: reservas@diamantinahostel.com.br